Estou escrevendo esse texto exatamente 12 horas
antes da segunda maior mudança da minha vida. Segunda porque a primeira foi vir
pra cá, pra capital de São Paulo. Nasci e vivi 19 anos em Santos, litoral de
São Paulo, onde a grande maioria da minha família sempre viveu também. Desde
pequena tive que conviver com a ausência de um pai que mudou para São Paulo
para fazer faculdade. Não exatamente São Paulo, mas uma cidade vizinha no ABC.
Minha mãe sempre trabalhou muito, assim como minha avó, então os maiores passeios
que fazíamos eram limitados até a “Cidade”, como é conhecido o Centro de Santos
e que sempre terminavam em pastel no Carioca.
Meu pai era aquele cara que dizia que ia buscar
os filhos depois do almoço e chegava no meio da janta, mas era aquela pessoa da
família que vinha com as histórias incríveis da cidade grande (não que Santos
seja “pequena”, mas nada se compara à São Paulo). E mais, ele era o único
naquela época que podia proporcionar um passeio pela cidade cinza, terra da
garoa, a cidade que nunca dorme. Me lembro de sempre ter esse sonho, sempre
pedir para ele me levar para fazer alguma coisa diferente.
Conheci São Paulo naquela época de uma forma
diferente, não tão “raiz”. Passeávamos de carro, íamos à restaurantes bons...
Andar de carro pela Paulista era meu passeio favorito, principalmente em datas
comemorativas como o Natal. Mas eu sempre imaginei como seria a cidade no
dia-a-dia, naquela famosa correria que vemos todos falando na TV. Era isso que
eu mais sonhava vivenciar.
Muitos anos depois esse sonho pareceu ser
realidade quando comecei a estudar para fazer vestibular. Foram 3 anos tentando
uma vaga em faculdade pública e cada dia mais me convencia de que meu futuro
era longe dali, daquela cidade e infelizmente da minha família também. Queria
novos ares, novas experiências, novos lugares para explorar. Até que eu
consegui a tão sonhada vaga em uma universidade e me vi diante do meu sonho se
realizando. Confesso que não foi fácil, apanhei muito da vida aqui em São
Paulo, peguei muito metrô errado pra aprender a olhar para as placas. Mas eu
estava realizando meu sonho! Tudo isso fazia parte.
Nem tudo é como esperamos, nem tudo sai de
acordo com o script perfeitinho que escrevemos para nossa vida. Agora imagina
colocar seus sonhos dentro de caixas e carregar de volta para um lugar que não
é mais seu, que não te comporta. Eu cresci demais durante esses 5 anos e meio
para simplesmente caber de volta em um lugar que eu ocupava quando era pequena.
E não, não estou falando somente dos copos e pratos decorados que ganhei. Estou
falando de conquistas e novos sonhos. Estou falando de alma.
Talvez eu não durma essa noite, talvez amanhã à
esta hora eu esteja em meio a uma nova crise existencial. Mas não posso negar
que eu já estava cansada das páginas amarelas onde eu estava escrevendo minha
história aqui. Quem sabe esse passo para trás não seja para ver melhor todos os
passos que eu ainda posso dar à frente.
(Na foto sou eu, usando a blusa que ganhei de aniversário. Uma imagem de São Paulo, os nomes de alguns bairros famosos e uma frase sobre sonhos. Tudo a ver com o momento atual né)
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