É dia 14. Finalmente o dia do meu retorno à tão sonhada cidade grande. Aquela cidade que as pessoas chamam de Selva de Pedras e dizem mais, que não existe amor. Desço na rodoviária e caminho apressada para o metrô. Não estou com pressa, não tenho horário marcado, mas andar em São Paulo é quase um treino para uma maratona, você está sempre correndo e não sabe porquê.
Entro no metrô junto com centenas de pessoas e arrumo um cantinho para sentar em uma cadeira azul escuro, do lado de uma pessoa desconhecida. Ajeito minhas malas perto de mim e começo a olhar ao redor, como de costume. Isso é algo meu, gosto de olhar como as pessoas ao meu redor se comportam, como se vestem, como falam, como se portam... Fico imaginando como é a vida delas, de onde vem e pra onde vão.
Alguns bancos à frente tinha uma mulher bonita. Logo pensei nela, como seria encontrá-la no metrô? Talvez eu não sentasse ao seu lado, apesar de parecer interessante a ideia de ficar pertinho dela, sentir seu cheiro. Mas sentando longe eu poderia observá-la com calma em seus detalhes. A forma que ela olha pela janela, se cruza as pernas ou não, se mexe no celular ou é do tipo que gosta de “curtir o passeio”. Se estiver de fone de ouvido, eu aposto em H.E.R., Halsey e Bilie Eilish.
Talvez minha relação com ela seja assim de longe. Nossas bagagens são grandes e infelizmente ficam entre nós. Mas só alguém como ela seria capaz de entender minha necessidade de escrever em um cartão postal da minha cidade, mesmo as pessoas não usando mais cartões postais. Ou então comprar selos de verdade para uma carta que jamais seria posta ao correio. Entender as referências nem sempre é fácil, para ler nas entrelinhas as vezes é preciso de óculos (que ela deixa de lado muitas vezes).
São muitas estações, São Paulo é grande. Vejo a bela moça sumir entre a multidão no entra e sai da estação Sé. Me despeço com um simples olhar de uma paixão instantânea de metrô, que talvez eu nunca mais veja na vida. Guardo em minha mente a imagem daquela moça bonita que logo será substituída por outra. É assim o ciclo.
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