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Pensando nela


Foto: Pinterest

Esse texto foi originalmente publicado com o título “pensando em você”. Mas como autora e protagonista dessa história, acredito que ela mereça um retrato mais cuidadoso do que apenas um registro à flor da paixão. Sendo assim, novos detalhes do início dessa história foram adicionados para que você leitor também se apaixone ainda mais.

Dizem que só encontramos o amor quando paramos de procurar. Eu particularmente acho que as pessoas só dizem isso porque quando estamos procurando somos capazes de aceitar qualquer pessoa que aparecer como se fosse a certa, o tal amor da nossa vida – mas um assunto amplamente tratado na minha vida (inclusive com ela) é a famosa frase “a pessoa que vem é a pessoa certa”, que cada um que entra na nossa vida tem algo a nos ensinar. Contrariando a todos, eu estava procurando, mas não sabia que era ela (até encontrar). Eu não precisei perder para saber disso, eu só precisei encontrar.

E esse texto é sobre o dia que eu a encontrei.

Eu havia passado há pouco pelo meu primeiro relacionamento com uma mulher. Uma mulher um tanto quanto peculiar, mas ainda assim, um ser humano com o corpo igual o meu. Minha decepção com ela foi tamanha, mas eu escolhi não chorar mais do que um dia. Decidi não me culpar por não ter dado certo e parti em busca de novas experiências. Baixei um aplicativo de paquera e dei algumas voltas pela cidade, o que me conectou com algumas pessoas. Cheguei a me encontrar com uma garota que conheci naquele aplicativo, mas só serviu para eu parar e pensar: será que é isso mesmo que eu quero? Esse famoso “date ruim” me fez pensar que talvez eu estivesse no caminho errado, me enganando. Outras pessoas que conheci simplesmente não valiam o encontro.

Coincidentemente eu também havia saído do meu emprego e minha mãe sentiu que eu não estava bem, então me chamou para passar os finais de semana na casa dela, em Santos. Bastou um dia na cidade para que o aplicativo encontrasse essa menina. Olhei para as fotos dela e o que mais me atraiu não foi sua aparência, seu rostinho de novinha ou seus dentes perfeitos, mas o brilho nos olhos, a sinceridade na biografia, as paisagens ao fundo das fotos que me fizeram viajar dentro daquela imagem e imaginar quem era ela em cada um desses lugares. Confesso que eu tive quase certeza que combinaríamos porque julguei que o estereótipo dela combinava com o meu (que pré-conceito chato né?). Eu queria acreditar, de verdade, que ela era sim uma pessoa interessante, mas ela insistia em demorar um dia inteiro para responder, o que me deixava beeeem irritada.

E eis que um dia ela comentou que estava perdida por São Paulo e eu tive que olhar novamente no aplicativo onde foi que nos encontramos, porque eu jurava que era em Santos. Era uma Sexta-feira, fazia uma semana que havíamos nos “conhecido”. Também o dia que aproveitei as minhas férias forçadas para fazer minhas visitas obrigatórias de estágio e logo depois eu iria para Santos – lógico que fiquei levemente preocupada de que ela estaria na minha cidade justamente no dia que eu ia pra cidade dela. Entre uma visita e outra eu respondi suas mensagens, ela estava na cidade à trabalho e que talvez fosse voltar para Santos na mesma hora que eu. Comecei a fazer meus esquemas mentais, do tipo “se pegarmos o mesmo ônibus, podemos conversar ao longo do caminho e se não der ‘match’ nem precisamos gastar um ‘encontro’”.

Não foi bem assim que aconteceu. Ela decidiu voltar mais cedo pois iria com o carro do chefe e ainda ia dar carona para uma advogada. Eu ainda ia buscar minhas malas em casa, do outro lado da cidade. Plano falho. As mensagens cessaram, mas dessa vez não fiquei tão irritada porque sabia que provavelmente ela estava dirigindo e eu esperava receber uma mensagem dela dizendo que já estava na ‘praia’. Eu passei a tarde toda pensando nela, achei que talvez não fosse interessar por mim, porque eu morava em outra cidade, mas sua rotina louca me prendeu ainda mais a atenção.

Quando ela me mandou mensagem novamente eu já estava no ônibus, presa no pedágio por causa do trânsito e com muita chuva. A mensagem dizia “ainda não desci”, mas já faziam quase 3 horas desde que ela avisou que estava indo. Fiquei preocupada, perguntei o que havia acontecido. Será que foi o trânsito também? Comecei a olhar pela janela em volta, mas não sabia exatamente o que eu estava procurando. Bom, o motivo era “bati o carro do meu chefe”. Meu Deus, ela bateu o carro e está se preocupando de me mandar mensagem!!! Passado o susto, ela me disse que não foi nada tão sério e estava pegando a serra com o carro batido, isso me deixou com o coração na mão e inquieta até o momento que ela avisou que já havia entregue o carro e estava no uber indo pra casa.

Criei coragem e perguntei quais eram os planos pro fim daquela Sexta-feira chuvosa, até porquê, se ela fosse me dar um fora eu demoraria para receber a mensagem (na minha mente naquele momento isso pareceu reconfortante). “Ah, eu ia beber, agora não sei mais”. Depois de um papo furado foi ela quem me perguntou “vai curtir a sexta?”. A única coisa que eu consegui dizer foi “eu queria curtir, mas não sei”. E pro meu azar a resposta dela foi “eu já desisti, já estou de samba canção e vou de Netflix e vinho”. Pensando nisso tudo agora eu vejo o quanto marcamos bobeira de não ter convidado uma a outra para um encontro aquele dia. Foi realmente um desencontro em duas cidades diferentes.

Nos embalos do cansaço da ‘viagem’ e do friozinho que aquele dia resolveu fazer, as duas caíram no sono no meio da conversa que incrivelmente continuou na manhã seguinte com direito à um áudio de bom dia com pássaros ao fundo, o som mais lindo que escutei nos últimos tempos – a voz dela e a natureza. Uma coisa era certa, era Sábado e eu iria embora no Domingo, então aproveitei que estava cedo para perguntar “vamos fazer alguma coisa hoje?”. Fala sério, as perguntas da noite anterior deixaram implícitas por ambas as partes o interesse de se ver. Mais papo furado no meio, coisas como ‘nome duplo’, programas de tv e o tempo chuvoso. Até que no meio disso ela disse “e ai, vamos sair?”. E eu me achava direta, até conhecer ela. Foi algo que bateu tipo “vamos agora?”. Não dava pra recuar, afinal, passei boa parte do dia acreditado que não ia rolar nada.

Era pra ser um encontro despretensioso, apenas para nos conhecermos mesmo e ver se valia a pena continuar conversando, mas eu levei duas horas para me arrumar – que incluiu lavar e secar o cabelo. Sabe aquela história? Melhor se arrumar até para ir na padaria, nunca se sabe onde irá encontrar o amor da sua vida. Apesar de tudo, eu estava bem tranquila, zero expectativas, zero frio na barriga. Até fui andando pro barzinho que era do lado de casa, não levei guarda-chuva. Mas na última esquina em frente ao bar começou a chuviscar e eu tive que esperar os carros passarem para atravessar. Olhei para dentro do bar que é todo em vidro e estava lotado, inclusive com pessoas na rua. Minutos antes ela havia mandado uma mensagem dizendo que já havia encontrado uma mesa. Eu estava levemente arrependida de ir em um lugar tão cheio, mas de alguma forma a encontrei no meio daquela multidão, sentada em uma mesa pequena encostada em uma pilastra. A sensação que eu tive é de que a terra havia parado de girar por uns 2 segundos.

Eu só conseguia pensar "ela é linda". Não sei dizer se é sobre sua aparência, seu jeito de se arrumar simples, delicado e feminino. Ou se foi pela forma que ela estava sentada, sua postura, sua expressão séria. A conhecendo agora eu até diria que ela estava incomodada de estar naquele local lotado com pessoas falando alto todas ao mesmo tempo. Pra mim também foi um desafio, mas eu ganhei forças quando a vi resistindo e enfrentei. Mal sabia eu como cumprimenta-la, só queria chegar e sentar na mesa fazendo uma piada, típico meu – fingindo naturalidade. Mas eu sabia que ela merecia mais, eu precisava valorizá-la. Conhece aquela outra história? "Areia demais para meu caminhãozinho?". Eu escolhi fazer quantas viagens fossem necessárias.

O que dizer daquela noite? Foi incrível. A forma que ela arrancava as coisas de mim, me fazia ser sincera a todo custo. Eu queria lhe falar toda a verdade, eu queria que ela soubesse exatamente quem eu sou, ali, naquele momento, sem mais ou menos, ou tudo ou nada. Eu senti que com ela não tinha outra opção, não tinha a chance de erro, mas para mim também não podia haver. Eu não entrei nessa para perder. Sei que todas as hipóteses seriam testadas, não podia hesitar. Por quê você merece essa chance? “Quem me garante que você, que eu acabei de conhecer, não vai quebrar meu coração?” Não garante né? Eu só queria que ela visse o que eu sou exatamente na minha essência.

A bebida entrou, o papo saiu e estava bom. Infelizmente o horário de funcionamento do bar impediu que continuássemos e as quatro horas de encontro não me pareceram o suficiente para mostra-la que eu estava completamente na sua. Tivemos que sair e um filme passou em minha mente: será que fui legal? Será que ela gostou de mim? Será que ela percebeu que eu gostei dela? No final das contas não teve beijo. Fomos embora juntas de uber, tentei me aproximar dela no carro, mas a senti se afastar. Ela jura até hoje que isso não aconteceu, então acho que eu estava meio bêbada. Fiquei refletindo se a iniciativa do beijo tinha que ser minha ou se ela realmente não queria... Abalou minhas estruturas, nunca tinha acontecido. Ela desceu do carro para se despedir de mim e eu só consegui lhe cumprimentar com um beijo no rosto e ainda por cima com a bochecha esquerda, completamente desorientada.

Já era tarde, mas ainda trocamos umas mensagens que me deixaram ainda mais confusa. Ela disse ter adorado me conhecer e que riu muito (isso é bom, né?). Ainda fechou dizendo “meu cachorro quer te conhecer”. Olha, de onde eu venho, apresentar a paquera pro cachorro é coisa séria em! Eis que... “Se tiver um tempinho te apresento ele amanhã”. Depois dessa eu praticamente não dormi, fiquei sentada no sofá rindo feito boba, sozinha e pensando nela.

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