Batalhei muitos anos para conseguir minha tão
sonhada vaga na faculdade – e me manter
nela –, mudei de cidade, fui para longe de toda a minha família e amigos e
assim vivi até o dia em que me formei, ou melhor, o dia que acabou. Eu desejava
tanto isso, mas ao mesmo tempo não fazia ideia de como as coisas seriam quando
esse dia chegasse. Eu teria o emprego dos sonhos? Ia continuar morando sozinha?
Iria voltar para a casa da minha família? (Insira
aqui aquele emoticon do WhatsApp “dando de ombros”) Eu só sabia que o sonho
– aquele lá, que me motivou a tudo isso – não havia acabado, na verdade ele estava
apenas começando e eu estava convicta que tudo se resumida à São Paulo Capital.
A vida perfeita desmoronou. Passei uma semana
inteira comendo macarrão com molho pronto e calabresa frita só para dar um
sabor (e porque era mais barato), enquanto tentava me manter em uma empresa desonesta
e com problemas judiciais que logo me colocou na rua da mesma forma que havia
me encontrado. Não tinha como pagar mais
um mês de aluguel, eu precisava variar o meu cardápio então tive apenas dois
dias para decidir e organizar tudo. Estava certo, eu voltaria para a casa da
minha família no litoral só pelo tempo suficiente para encontrar um novo
emprego, me estabilizar e finalmente voltar a morar sozinha. No dia que fiz a
mudança acabei ficando sozinha em casa. Ao invés de arrumar as coisas, eu chorei.
O sentimento naquele momento era de derrota. Eu não havia conseguido me manter
dentro dos planos que eu mesma tracei.
Achei que meus dias aqui seriam basicamente
viver em função dos outros, trabalhar em qualquer coisa que não fosse na minha
área, enfim. Ainda não estou trabalhando, mas o dinheiro que economizei dos
aluguéis consegui investir em mim. Atualizei meu plano com a dentista, vou
corrigir aqueles dentes que tanto em incomodavam (e voltar a sorrir nas fotos);
comecei finalmente a fazer terapia, e mês que vem irei mudar o cabelo, coisa
que a antiga eu jamais imaginaria: cortar num tamanho médio (sempre fui contra,
ou era curto ou era longo) e voltar à cor natural, depois de muitos anos
tentando ficar super loira.
Atualizei minha versão de mim.
Parecem coisas pequenas mas acho que na comodidade e na correria do dia a dia
eu jamais pensaria em fazer. Essa “pausa” nos planos me fez finalmente me olhar
no espelho e ver a pessoa que estava ali, sem toda essa preocupação com os
cronogramas e prazos. Sempre achei estranho pessoas que ‘um belo dia’ resolvem
fazer tudo que um dia juraram nunca fazer. Mas me vendo nesse momento consigo
entender. Não da pra explicar, tem que viver.
Comentários
Postar um comentário