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Princesa




Durante nosso tempo juntas falamos muito sobre “aprender algo com as pessoas que passam pela nossa vida”. Nosso maior hobby era tentar adivinhar o que tínhamos a aprender uma com a outra e se de fato seria algo somente passageiro ou duradouro. Aquela mania clássica do ser humano de querer adivinhar o futuro. Talvez algo do tipo “eu faria diferente se soubesse desde o início que seria algo para sempre, mas como não sei, prefiro viver um dia de cada vez e se rolar, rolou”. Ela pareceu se convencer disso quando falou estava me preparando para o que viria depois em minha vida, enquanto eu ainda lutava contra a maré e preferia acreditar que ficaríamos juntas por muito tempo.

No nosso último dia juntas isso ficou ainda mais evidente. Suscitei uma discussão que poderia nunca ter acontecido, mas eu como a excelente psicóloga que sou, sei que é preciso fazer manutenção nas relações. Também precisava fazer valer a promessa que eu tenho comigo mesma: ser sincera com meus sentimentos. Como eu poderia deixar aquilo passar? Sabendo que eu estava muito incomodada e óbvio, já tinha enviado prints para minha melhor amiga, como quem diz “tá vendo? Acho que estou me iludindo novamente”. Esse dia nos mostrou que não estávamos realmente prontas para aprender o que a outra tinha pra ensinar. Seria algo do tipo, estudar pra passar na prova com 7 e não ter mais que estudar aquilo.

Bom, sabemos que não é justo isso com ninguém. As pessoas por mais que sejam passageiras não precisam ser maltratadas. Muito pelo contrário, temos que cuidar ainda mais delas por esse mesmo motivo. Mas nós não somos um sentimento só, somos vários. Ao ser sincera com um, enganei outros, estes que vieram à tona, por exemplo, uma semana depois quando ela me mandou mensagem meio arrependida do clima que deixou, e quando fiz um convite ridículo de desfilar na avenida durante o carnaval, que obviamente ela odiou.

Eu tive raiva, fiquei triste, senti saudades. Pensei em mandar mensagem várias vezes, algumas mandei, outras eu silenciei e arquivei a conversa. Falei sozinha muitas das vezes, como forma de escutar o quão boba eu estava sendo. Fiquei horas olhando se ela ficava online no WhatsApp, vi as fotos no Instagram e não curti de propósito. Novamente eu não estava sendo sincera, eu queria curtir e comentar cada foto da viagem de última hora que ela fez; queria mandar mensagem e dizer “fiquei morrendo de vontade de conhecer esse lugar só pelas fotos que você postou”, e mais “quando você volta? Você prometeu me contar seu maior segredo, a melhor sorveteria da cidade... Vamos aproveitar esse calor?”.

Cê acha que eu fiz isso? Fiz nada! Mandei mensagem pra ela e a provoquei como uma adolescente, e pior ainda, ela “correspondeu”. De verdade, esses jogos de adolescente nunca funcionaram para mim, então não sei o que significa. Provocá-la chamando de “princesa” mesmo sabendo que ela odeia pareceu a melhor opção.

Nesse momento ela deve estar no aeroporto esperando iniciar o embarque do voo dela pra um país vizinho, onde ela vai se aventurar e passar as festas de fim de ano. Agora ela só volta ano que vem, nos despedimos por mensagens lamentando as agendas não terem se conciliado e não ter ocorrido um “último” encontro. Vou escrever uma carta para 2019 desde já, pedindo pra providenciar um reencontro (e um recomeço) lindo para nossa história.

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