Sentada em uma das mesas daquela pequena cafeteria,
tomava seu café tranqüilamente. Sua mão segurava delicada, porém firmemente a
xícara que levava aos lábios rosados do batom, sem nenhuma pressa, como se o
tempo nunca passasse. Era assim para ela, todo o dia em que sentava naquela
mesma mesa, para tomar seu costumeiro café, o tempo parava. Era como se os
ponteiros do relógio se recusassem a funcionar, aliás, há alguma coisa mais
interessante que não seja vê-la tomar seu café?
Para ela, sim. Era muito mais interessante observar
as pessoas correrem pelas ruas, atrapalhadas, rumo sabe-se lá onde.
Compromissos que julgavam importantes, porém, para os quais estavam sempre
atrasados. Ela não fazia nada com pressa, nada correndo. Tudo no seu devido
tempo. Afinal, ela tinha o tempo em suas mãos, nunca se atrasava, nunca perdia
a hora. Nada que um ajuste nos ponteiros não concertem.
Toda manhã, após tomar seu café e observar as
pessoas, ela levantava-se, pagava a conta e caminhava devagar até a empresa
onde trabalhava. Todos sabiam quem era ela, mas ninguém a conhecia. Ninguém
sabia de sua história, sua vida. Toda história da qual conheciam desta moça,
eram simplesmente os contos que ela publicava todas as semanas no jornal da
cidade. Era famosa, mas não era celebridade.
Suas histórias tocavam o coração de quem as lia,
cheias de sentimentos e emoções, mas ninguém nunca chegou a saber de onde vinha
toda essa inspiração. Seriam fragmentos de sua própria história? Seriam
histórias de outras pessoas? Ou seriam histórias inventadas? Seria ela uma
mentirosa? Ninguém sabia.
A expressão daquela moça nunca fora de denunciar
suas emoções. Parecia não sentir nada, fria. Porém, sua imagem era de uma
mulher muito bem resolvida. Nada do tipo solteirona, ou mãe de três filhos. Apenas,
mulher.
Mas não apenas uma mulher. A cidade inteira parecia
parar quando ela passava. Todos queriam saber quem era ela. Por dentro. Que sentimentos
têm essa moça? Pelo que ela já passara? Por que, todos os dias, ela toma café
no mesmo lugar, na mesma mesa? Porque sempre estava sozinha, não falava com
ninguém? As pessoas tinham medo de se aproximar? A ausência de pessoas perto
dessa moça fazia com que as outras pessoas, que a viam, não se aproximassem
também.
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